Cansei de ser CULT
Já vou avisando: Hoje eu to revoltada!
Pra início de conversa, adoro a Shakira! Isso é pra deixar bem claro que não é porque está na moda, ou porque meu círculo (vicioso) profissional-intelectual acha cult, que vou passar a achar algo interessante. A Shakira tá com um rebolado! Eu gosto da voz dela cantando em espanhol e isso ninguém tira de mim. Eu não preciso explicar o porquê. Só gosto dela e pronto! Dá licença?
Não vou tomar atitudes que vão contra ao que eu acredito ser ruim para simplesmente "estar inserida"! Não me pergunte se eu gostei, porque corre o risco de eu não ser legal com a sua pessoa!
Lá no começo da faculdade, quando eu tinha 17 anos e ainda era virgem, eu não era boba e observava tudo de perto. Se tivesse um povo indo nadar pelado de madrugada na saída do baile e me chamasse, eu ia. É, aquilo foi a fase de conhecimento das coisas. Eu estava ali, no ápice da minha liberdade, morando em uma cidade diferente e andando com gente experiente. Para mim, tudo era novidade.
Ainda no curso de desenho industrial, era bacana descutir cinema nos congressos. Eu via dois filmes europeus e já me sentia a conhecedora estudiosa do cinema francês. O pior era que eu não sabia se eu gostava. Sei lá, era tudo diferente! Talvez eu me sentia ameaçada por discordar de alguém que realmente gostasse daquilo tudo e entendesse. Vai que eu "dou uma rata"?? Minha credibilidade ia pelo ralo.
Eu sempre tive que ser CULT! Cansei!
Vamos esclarecer uma coisa: acho um porre ir à um Cine Cachaça no Odeon, numa quarta-feira e ver um produtor com a cara cheia de maconha (porque é Cult) discursar sobre a "obra de arte" (que obviamente eu achei um lixo!) que fez há 20 anos atrás e ser ovacionado por um bando de meninos que mal ouviram falar de Pixote. Provavelmente ele era o único cara disponível para comentar o assunto do dia, ou faltaram opções mais interessantes para os organizadores encaixarem no evento seguindo a pauta sugerida para completar o mês. Mas aí, a molecada de 21 da platéia, aplaude com a mesma admiração de estagiária, que eu aplaudiria MESMO naquela época.
Já que precisamos colocar um rótulo, vou ajudá-lo a me chingar, caro fiel leitor:
Lá na Paraíba, as pessoas me chamariam de "mundiça", mas já escutei "fuleragem"; em Guaratinguetá eles chamariam de "fubá", mas aqui no rio, malandro chama de "paraíba", enquanto em Sampa, geral se reportaria a mim usando "baiano". Tudo bem, eu vou aderir ao termo "pião", que tem mais a ver com Barra Mansa: "Piona essa Kitty, héim!?"
Estou muito chata, mas fui com a minha priminha (CULT) ao cinema ver uma sessão de Saraceni (sei lá se é assim que escreve). Ela saiu chorando do cinema, emocionada, dizendo que o que a gente viu, faz parte das nossas raízes! Nossa bisavó, que pintava as galinhas de rosa-choque para combinar com as paredes, viraria no túmulo ao saber que o tal Saraceni-reconhecedor-das-raízes dela, deixa aparecer fios de luz, tomada e disjuntores, enquanto os cenários possuem lampeões a gás, fazendo os seus filmes. Dona Eudoxia certamente tomaria mais cuidado!
Já chorei vendo Deus e o Diabo na Terra do Sol. Mas com todo respeito desse mundo ao Glauber Rocha e ao Cinema novo, hoje tenho a plena convicção de que eu não iria à uma sala de cinema no CCBB quando estivesse passando esse filme de novo. Acho Glauber Rocha um saco, apesar dele ser blá blá blá...
Hoje em dia, calejada de coisas que já tomaram muito meu tempo, curto muito um boteco na Lapa, mas se a cerveja estiver gelada. Gosto muito de samba de roda e, se eu estiver em Olinda, vou à um côco amarradona! Vou à Santa Teresa passear pelos bares que me deixam muito à vontade. Isso porque eu posso ir com a minha velha calça jeans ou, se eu quiser, vou de salto mesmo! Mas por favor, não me venha dizer que é legal ficar lendo coisas. Não me obrigue a guardar nomes, em nome de uma profissão que é CULT e está IN.
Me poupe!
