quinta-feira, novembro 10, 2016

Carta anônima à amiga desaparecida

A nossa amizade sempre se destacou em opostos: a gorda e a magra, a porra louca e a sensata, a grande e a criança, a ruim e a boazinha, a da Caloi Cross e a da Cecizinha. Sempre achei excêntrica a nossa parceria... a coisa mais legal da minha vida... porque sempre gostei de abacaxi com lombo, queijo com goiabada e o bem com o mal. Nós, a preta e a branca, com metros de altura e larguras de inteligência: que exótico!

Crescemos. E nós crescemos em decisões. Você, a profissional da saúde que brinca de Deus. Eu, a profissional de Design que usa os dons dados por Deus. Você com seus deuses e eu com o meu próprio, apesar de que tenho alguns intermediários da fé. Bem, acerca da nossa escolha a certeza de que somos opostas. Você, a preta magra, eu, a gorda branca. A gente de certo nunca combinou. Mas nossa, como você me completava!

Eu, aquele menininho que investia no Balão Mágico. Você, o mulherão que escutava Milton Nascimento. As suas bonecas davam de mil a zero nas minhas bolinhas boladas bolas de gude! Sempre deu! Você, bolada... shhhhhhhh!!!

Até em termos de língua somos diferentes! Você escolheu a língua do corpo para ganhar a vida, a língua inglesa para se profissionalizar, a linguagem pragmática para viver. Eu, hotdog, New York, Superman, a semiótica das palavras e dos gestos, a língua do coração vazio.

Dói! Mas ensaio dias e dias o contar da minha vida, o passar das palavras, as contas do pensar. O álcool já tentou me explicar aquilo que já chegamos às conclusões coletivas. Só que dessas vezes você não estava. Ele me ajudou a me calar.

Sabe o que eu acho? Que eu ainda te quero perto, mesmo que longe. Que as expectativas são rapsódia para a poesia das nossas vidas. A vida está passando rápido e eu preciso de você(s).

Tá passando... eu tenho medo. Duramos pouco. Te amo.