Uma das maiores questões nas
minhas andanças por aí é a água, a falta dela ou o excesso dela. Por aqui, após
chegar, já tive muitos cases de água
e por isso venho a relatar agora...
Quando estamos no Brasil nos
preparando para viajar para a Europa, ouvimos muitas vezes pessoas relatando:
“cuidado, vê se tem banheiro com ducha lá!” Não sei o tipo de experiência
trágica que essa galera já teve, mas, por mais que eu só tenha vindo para a
Espanha e Portugal, nunca me deparei com um banheiro sem que eu possa tomar os
meus dois banhos por dia! Não sei por aí onde o povo que fede no ônibus mora,
qual é a realidade da ducha, mas para mim, muitas coisas aconteceram, mas nunca
a falta d’água! Kitty, a privilegiada, de certo!
Ando pelas ruas e, quando
estou de bobeira, sou frequentadora assídua dos parques. Eles merecem, acho eu,
uma bela averiguação antropológica! Por eles encontramos velhinhas sozinhas
dando pipoca para os pombos gigantes, pessoas com 12 cachorros fazendo piquenique
(esquisito escrever essa palavra assim igual leiaute), pentelhos correndo e
gritando (uma espécie mundialmente disseminada) e, claro, fontes, fontes e
fontes... Me pego pensando às vezes: “ai, a dengue..? Relaxa, criança, aqui não
tem dengue!” Não, não tem dengue, mas a água desses lugares é bem suja na
maioria das vezes... Em alguns momentos estou suada, doida para molhar o rosto
naquela fonte, mas fico com nojinho de pensar que aquela cascata pode surgir à
partir da lama de baixo.
Outra coisa que encontramos
nos parques é uma bica que parece um hidrante grande. Legal, na Espanha ninguém
morre de sede. Mas já vi bundas e bundas de criança serem lavadas ali. Por mais
sede que se possa ter, não me arriscaria a beber uma água que passa por
encanamentos enferrujados dessas cidades velhas! A onda é levar de casa mesmo,
comprando 5l a 1,5 Euro no supermercado. Ah, supermercado aqui é mercado mesmo,
porque o que se chama supermercado é loja “Shopping China”.
Vale a pena um parágrafo para
falar das lojas de chinês! Elas se multiplicam como eles mesmos. No bairro que
estou morando tem uma do lado da outra, vendendo os mais variados artigos “mui
barato”. Fico sempre curiosa em saber o nome deles e tentar repetir. Para essa
“trolada”, eles têm sempre uma saída, inventam um nome espanhol para si. Até
agora, todos os jovens se chamam Pepe e as mulheres Magdalena. Vai saber! Mas
eles são imbatíveis! Nada se compara, em preço e variedade de artigos, a um
Shopping China... Magdalena tem uma que vende creme Nívea, bacia e entrega
comida a domicílio. Aliás, a água no chinês é 1 Euro os mesmos 5 litros do
mercado. Vale à pena conferir!
Uma coisa que me intriga á o
padrão dos boxes dos banheiros, sobretudo aos de hotéis ou hostels. Naquela
gaveta de guardar turista que fiquei logo que cheguei, creio que o ralinho do
box era entupido de propósito pra fazer brasileiro afundar 10cm dos pés no
banho. Lá em casa o cubículo é igual, não conseguindo molhar a bunda e a cabeça
ao mesmo tempo, mas pelo menos tem esquadria de alumínio e o ralo escoa! Mas é
curioso que o chão é forrado um uma peça de plástico conformado pronto para
escorregar. Pronto... armadilha de pegar brasileiro que toma muito banho. Dois
por dia!
E já que o assunto é água,
gostei do nome que o espanhol deu para guarda-chuva. Como se não bastasse a
dificuldade que tenho em escrever essa palavra com a nova regra ortográfica
(tem hífen ou não tem essa porra?), o objeto não guarda a chuva, repele ela.
Por isso, o chamado “parágua” espanhol. Mais prático! Mas o do chinês não para
e nem guarda... chove dentro!
Por falar em chuva, acho
depressivo quando chove por aqui. Prefiro o sol. Mas quando cheguei faziam
quatro estações no mesmo dia. Dá-lhe casaco e guarda-chuva (com hífen mesmo),
com mochila e a casa nas costas! Faz uns 10 dias que não sei o que é chuva! Já
me disseram que vim pra morar no lugar errado pois na Europa é frio!
Como diz uma amiga que
detesta a Andalucía, “você não está na Europa, amor... está na África!” Só
porque estou há 120Km de Marrocos. Essa mesma amiga deu a explicação do
entupimento do box no hostal: “É sujeira”. Para as fontes de água suja, ela
diria: “Não te falei?” E para as bundas de neném lavadas nas bicas de beber
água, é porque estou na África? Não, porque vi isso acontecer em Barcelona, há
quilômetros para cima de Sevilha, quase na França... A resposta é: “Meu bem,
Espanha não é Europa...” Fim... um balde d’água fria!