terça-feira, dezembro 22, 2015

Feliz Navidad

Peguei essa mania de justificar o título logo nos primeiros parágrafos em cada postagem porque ainda não tenho a destreza linguística de amarrar o enredo ao título durante a trama. Mas vou treinando. Bem, ele é para um grande amigo que foi grande responsável por eu estar aqui hoje. De uma maneira muito afetiva, fazendo uso da minha fé, colocou uma frase na minha trajetória de vida que me conduziu por um ano e meio: "você vai passar no Doutorado e ainda vai estudar no exterior". Esse meu amigo dança comigo em todos os natais uma espécie de bolero que leva o título. Bem, este ano vamos brincar separados... quem mandou?

Natal para mim sempre foi um momento de grande ansiedade e toda pessoa ansiosa está sujeita a decepcionar-se. Não, não é uma postagem triste, mas chore se quiser. Eu vou dar uma choradinha aqui... de leve... No começo essa ansiedade vinha regada de Transformers, Playmobis, robôs, bicicletas, desde que eu pedisse também uma boneca! Eu não era rica, mas meu pai vendia brinquedos. Isso facilitava muito os pedidos, pois, se o que eu quisesse não tivesse na loja, ele comprava à preço de atacado em São Paulo, Rio ou Aparecida. Ao longo dos anos isso foi ficando mais difícil, pois não se podia comprar Atari ou aparelho de som com facilidade à preços módicos. Isso não vem ao caso. A verdade é que fui bem mimadinha, mas meus pais brincavam com a coisa da "magia do Natal"! Era muito bacana e recompensador!

Quando eu era pequena íamos para a casa da minha madrinha na noite do dia 24. Apesar de eu não gostar muito da comida e das orações, o ritual de colocar o Menino Jesus na manjedoura me deixava em local de destaque, pois como eu era a menor criança da casa, essa tarefa foi minha por muitos anos. Até que nasceu seu primeiro neto e perdi o meu posto de colocadora de Menino Jesus na palha. Isso me fazia querer ir embora para casa mais cedo. Na realidade, sempre quis ir para a minha casa mais cedo, pois a madrugada do 24 de Dezembro era o momento dos presentes na árvore. Mas tiraram meu posto... primeira decepção.

Ao passar dos anos, minha mãe decidiu UNIR toda a família para o grande momento. Foi a pior coisa que ela fez para acabar com meus natais dali por diante. Primeiro porque eu era adolescente. Meu cabelo era um jubão porque não tinha produto naquele tempo! Nada que ela fizesse iria tornar meu natal mais agradável. Segundo que Dezembro no Brasil todo mundo conhece... CHEIO PRA CARALHO! Como todo Janeiro íamos para São Lourenço e depois para Niterói, eu precisaria de "roupas de menina". Naquela época os vestidos eram bem legais! Me lembro de uma coisa de moletom com capuz e um cordão... meio roupa de gente que vai surfar. Mas não sei porque minha mãe achava que roupa de menina era combinar a parte de baixo com a parte de cima. Saía por aí de pijama por insistência dela, depois de altos fights na Mesbla (porque ela tinha cartão e dividia em 10 vezes).

A noite de Natal do adolescente é a coisa mais porre que existe! Ele é obrigado a descer de banho tomado, cumprimentar todas as pessoas da sala, comer comida doce com salgada incluindo arroz de forno e ainda, apesar de já ter bebido vodka com os amigos, só beber Coca-Cola. Além disso, não é coisa de gente que está crescendo esperar os presentes na madrugada. Ou seja, acabou "procê a magia, mermão"! O que ele veria eram todas aquelas roupas da Mesbla embrulhadas para presente embaixo da árvore para fazer volume, somadas ao pijaminha que a sua avó comprou, à camisetinha que vai ganhar da tia e, no máximo um dinheirinho num envelope que virá por aí para "comprar bala". O adolescente ainda tem que ficar na sala até os convidados irem embora fazendo de conta que a conversa está ótima!

É lógico que esse adolescente mencionado acima era eu em terceira pessoa. Porém, para cada problema, tentava me sair melhor. Para as conversas chatas eu começava uma sessão de piada. Na hora todo mundo ria, depois que os convidados iam embora a sessão era de porrada! Para a questão da comida, aprendi a gostar mesmo... para a falta de álcool, comecei a beber dois anos depois e, para os presentes, eu fingia que gostava, mas a minha avó sempre tinha a surpresinha no dia 25: o envelopinho dela era bem gordinho! Mas para cada palavrão, um beliscão com a unha (aqueles que fazem a gente arder em febre) embaixo da mesa. Mas eu logo soltava: "ai, vó!""

Uma coisa divertida lá em casa era a minha mãe ficando bêbada e dançando tango com meu tio também bêbado na sala. Compensavam a sessão de Roberto Carlos e as músicas natalinas que ninguém aguentava (agora eu gosto - vide primeiro parágrafo).

E por falar em música, eu nunca podia colocar os meus discos do Balão Mágico e Pluct Plact Zum, mas a minha irmã podia colocar o 14 Bis dela à vontade! Isso au não entendia. Trauma mesmo foi eu levar bronca e ter que tirar da vitrola na mesma hora os "Bichos Escrotos" que eu tinha acabado de ganhar dos meus primos mais brother. "Que música é essa, minha filha?" Não era só pelo teor da música, pois o mesmo aconteceu com "Mixed Emotion" dos Stones no ano seguinte. Até que surgiu a gravação da Simone para músicas de Natal. Aí foi a treva!

Aos poucos o Natal foi se esvaindo, até que ficamos sem a minha mãe, mas o segredo foi sempre a música e a cerveja! Nos bastamos ali em casa, recebendo uma visita ou outra, passamos com vizinhos mais que irmãos, tornando esses dois dias de martírio mais divertidos... Este ano não vai ser igual àquele que passou... como marchinha de Carnaval, porque eu resolvi estar fora uns dias numa onda diferente. Em compensação, é tanta coisa nova surgindo... tudo aquilo que eu pedi pro Papai Noel e pro Papai do Céu! Minha árvore no dia 24 vai estar cheia de amigos novos, regada à muito jamon, queijo e vinho NACIONAIS! E isso só foi possível por causa dos envelopinhos gordos da família, a torcida dos amigos lindos, a força do meu amor e a fé! Obrigada por tudo, pois vocês são pura magia! Tenho só que agradecer... nada para pedir... Afinal das contas, não é para isso que serve o Natal?

https://www.youtube.com/watch?v=54nJra_BzzI


terça-feira, dezembro 01, 2015

Comida

O título do post é fraco, mas vai ao encontro do Comer, Rezar, Amar a la Julia Roberts, com pouquíssima pretensão! Até porque, meus amigos, fazer uma saga daquela só com super produção, porque eu pararia no comer fácil e voltaria para o Brasil para amar... (Não daria conta das moscas da Índia). Então, ficamos por enquanto só no ítem 1 da saga.

Uma das coisas mais maravilhosas e pavorosas da vida é o item "comer" na rotina. Mas bobo de quem trata a ação como apenas rotineira. Há quem obedece o rigor das 8 vezes por dia, mas gosto (e muito) do fazer comer espanhol. Gente, tem a "siesta"... camarada acorda lá pelas 8, abre o botequim lá pelas 10, vende as paradas até as 14, dorme até as 17 e, lá pelas 17 e pouquinho volta, trabalha até as 20 e "já está". MARAVILHA girar em torno do comer e dormir na vida! Toma-se café reforçado, o almoço é lá pelas 4 com salada e um prato muito bem servido com direito à sobremesa e pão, para umas 8 da noite comer umas coisinhas...

Como uma boa e velha gorda, o papo de comida sempre está na roda. Mas como uma boa, velha gorda com sono, o sono muito me interessa também. Nas minhas tentativas de conversa em espanhol há sempre o questionamento sobre como a pessoa está comendo e como está dormindo. E lá vem uma receita de bolo ou uma indicação de chá (ou birita). Hoje mesmo dei camomilas aos sacos para o meu professor que só toma café sem cafeína (vejam só), porque tem dificuldade de dormir. Pecado, gente! Café sem cafeína, arroz sem sal, cerveja sem álcool... não dá... Cheetos sem glutose, formose, catrose? Morre logo!

Em posts anteriores já manifestei o meu problema com comidas que parecem mas não são, como a história da doida do pão com banana e leite puro no trem... das coisas sem lactose, dos pães sem glúten... Aí vem meu super amigo nutricionista e lança a pérola: "Se gluten fosse ruim, a humanidade já tinha se dizimado"! Celíacos que me perdoem porque o chip tá com defeito, mas que coisa mais chata esse papo de intolerância... intolerável! É intolerante, tenta inserir-se na conversa sendo legal pelo menos... é avesso à carne, às coisas natureba, te ajudo a achar as coisas que você pode comer, mas então pára de fumar maconha perto de mim!

Aliás, tenho uma sugestão... amiga minha tem uma filha que é alérgica a quase tudo! Ela é a super mãe que faz o saquinho-surpresa igual ao do amiguinho com os doces que ela enrola, com as paradas que a garota pode comer, vai lá e a filha tá inserida. Agora, papo brabo de pai que impede a criança de comer brigadeiro! Chato pra caralho! Criança sem Coca-cola, sem bala, sem risóles... criança chata pra caralho na vida adulta! Educa o paladar dela, que ela vai ser legal na vida adulta, e não exclusa! Palmas à nossa amiga que se inclui carregando seu suco de sei lá o que no meio da galera, incluindo a filha no meio das criancinhas! A alimentação não pode ser um problema, a menos que haja a falta dela (que não vem ao caso agora)!

Bem... mudando um pouco de assunto, a comida unifica, a comida integra e a comida espanta o ser humano da solidão! Sempre que fico sozinha, tento produzir altos rangos! Confesso que esses altos pratos sem Instagram, seria meio chato, mas o "comer com os olhos" é uma bela receita! Vou ali, combino os ingredientes e voilá, me divirto pacas!

Já que estou sozinha, um dos pontos turísticos mais visitados é o super-mercado! No começo a gente vai associando os produtos que vê, às coisas que gosta de comer habitualmente. Depois, vai se jogando e experimentando os novos sabores. Mas o limiar entre o interessante e o exótico é muito tênue... pois nessa de diferente, ainda tenho algumas ressalvas, como no mercado espanhol possuir pombo, cérebro de carneiro e alguns caracóis. Perguntei ao tio da feira: "são do mar?" - Ele respondeu: "não, são do campo!". Penso naqueles grandes caramujos que estão tomando conta dos jardins do mundo... nojinho! Ah, mesmo provando o diferente, ainda ando na busca de algo que pareça com o requeijão Poços de Caldas e manteiga Aviação! Dicas?

Nessa de garimpar o supermercado, descobri 4 tipos de tomates, outros 4 tipos de maçãs (nenhuma perto da Argentina - ODEIO), uma ameixa incrível... A couve-flor tem uma textura ótima, e a UVA... Sensacional! Cada mergulho é um flash... vou voltar no mercado na próxima vez no empenho daquele cogumelo que dá pra sentar de tão grande e colocá-lo na minha panela para ver qual é!

Sou uma pessoa fácil para o paladar! Gosto de uma gama de coisas em um patamar acima da maioria da população. Mas as coisas têm que me encantar os olhos! Quando tive dengue mandavam eu comer inhame. Gente, JAMAIS vou comer uma coisa cinza... Como até fígado e castanha portuguesa, mas ambos têm magenta! - Só os fortes entenderão! Então, sou a gorda que aposta no rosa... suspiro, sorvete de morango, chantily... ah, como eu amo doce de padaria! Parêntesis aqui... a padaria espanhola faz doces sensacionais e pães de matar! Nada daquele bolo de 1 semana na vitrine com confeito prateado e recheio de doce de leite em pedra... se bem que isso é bom também!

Nas minhas andanças, sempre chego no cara que faz a comida! Parece que a coisa me atrai. Tive a honra de conhecer o chef valenciano que faz as paellas do mercado de Sevilla. "Sou um mero arrozeiro"- ele disse. Tudo bem que a paella estava meio dura no dia, mas foi feita com tanto amor que estava com um sabor incrível! E no mesmo dia conheci o Sr. Pepe (todo mundo chama Pepe) que era o vendedor de marisco e agora é dono do melhor boteco do que chamam aqui de "pescaíto frito"*. Ainda vou conhecer a cozinheira do restaurante que carrega o nome mais sensacional que já vi: "A gorda te dá de comer!" META!

No mais, vou indo e vou vindo, mas nada substitui o Jamon com a cerveja. Bem que trocaria isso tudo por picanha na chapa... se bem que picanha na chapa com pão de alho feito com pão italiano com a farinha daqui... não sei, to com fome! Salud!

* Busco uma associação para o nome. Mas não gosto de "Freidura". Sugestões?

quarta-feira, novembro 18, 2015

Águas de Novembro

Uma das maiores questões nas minhas andanças por aí é a água, a falta dela ou o excesso dela. Por aqui, após chegar, já tive muitos cases de água e por isso venho a relatar agora...

Quando estamos no Brasil nos preparando para viajar para a Europa, ouvimos muitas vezes pessoas relatando: “cuidado, vê se tem banheiro com ducha lá!” Não sei o tipo de experiência trágica que essa galera já teve, mas, por mais que eu só tenha vindo para a Espanha e Portugal, nunca me deparei com um banheiro sem que eu possa tomar os meus dois banhos por dia! Não sei por aí onde o povo que fede no ônibus mora, qual é a realidade da ducha, mas para mim, muitas coisas aconteceram, mas nunca a falta d’água! Kitty, a privilegiada, de certo!

Ando pelas ruas e, quando estou de bobeira, sou frequentadora assídua dos parques. Eles merecem, acho eu, uma bela averiguação antropológica! Por eles encontramos velhinhas sozinhas dando pipoca para os pombos gigantes, pessoas com 12 cachorros fazendo piquenique (esquisito escrever essa palavra assim igual leiaute), pentelhos correndo e gritando (uma espécie mundialmente disseminada) e, claro, fontes, fontes e fontes... Me pego pensando às vezes: “ai, a dengue..? Relaxa, criança, aqui não tem dengue!” Não, não tem dengue, mas a água desses lugares é bem suja na maioria das vezes... Em alguns momentos estou suada, doida para molhar o rosto naquela fonte, mas fico com nojinho de pensar que aquela cascata pode surgir à partir da lama de baixo.

Outra coisa que encontramos nos parques é uma bica que parece um hidrante grande. Legal, na Espanha ninguém morre de sede. Mas já vi bundas e bundas de criança serem lavadas ali. Por mais sede que se possa ter, não me arriscaria a beber uma água que passa por encanamentos enferrujados dessas cidades velhas! A onda é levar de casa mesmo, comprando 5l a 1,5 Euro no supermercado. Ah, supermercado aqui é mercado mesmo, porque o que se chama supermercado é loja “Shopping China”.

Vale a pena um parágrafo para falar das lojas de chinês! Elas se multiplicam como eles mesmos. No bairro que estou morando tem uma do lado da outra, vendendo os mais variados artigos “mui barato”. Fico sempre curiosa em saber o nome deles e tentar repetir. Para essa “trolada”, eles têm sempre uma saída, inventam um nome espanhol para si. Até agora, todos os jovens se chamam Pepe e as mulheres Magdalena. Vai saber! Mas eles são imbatíveis! Nada se compara, em preço e variedade de artigos, a um Shopping China... Magdalena tem uma que vende creme Nívea, bacia e entrega comida a domicílio. Aliás, a água no chinês é 1 Euro os mesmos 5 litros do mercado. Vale à pena conferir!

Uma coisa que me intriga á o padrão dos boxes dos banheiros, sobretudo aos de hotéis ou hostels. Naquela gaveta de guardar turista que fiquei logo que cheguei, creio que o ralinho do box era entupido de propósito pra fazer brasileiro afundar 10cm dos pés no banho. Lá em casa o cubículo é igual, não conseguindo molhar a bunda e a cabeça ao mesmo tempo, mas pelo menos tem esquadria de alumínio e o ralo escoa! Mas é curioso que o chão é forrado um uma peça de plástico conformado pronto para escorregar. Pronto... armadilha de pegar brasileiro que toma muito banho. Dois por dia!

E já que o assunto é água, gostei do nome que o espanhol deu para guarda-chuva. Como se não bastasse a dificuldade que tenho em escrever essa palavra com a nova regra ortográfica (tem hífen ou não tem essa porra?), o objeto não guarda a chuva, repele ela. Por isso, o chamado “parágua” espanhol. Mais prático! Mas o do chinês não para e nem guarda... chove dentro!

Por falar em chuva, acho depressivo quando chove por aqui. Prefiro o sol. Mas quando cheguei faziam quatro estações no mesmo dia. Dá-lhe casaco e guarda-chuva (com hífen mesmo), com mochila e a casa nas costas! Faz uns 10 dias que não sei o que é chuva! Já me disseram que vim pra morar no lugar errado pois na Europa é frio!

Como diz uma amiga que detesta a Andalucía, “você não está na Europa, amor... está na África!” Só porque estou há 120Km de Marrocos. Essa mesma amiga deu a explicação do entupimento do box no hostal: “É sujeira”. Para as fontes de água suja, ela diria: “Não te falei?” E para as bundas de neném lavadas nas bicas de beber água, é porque estou na África? Não, porque vi isso acontecer em Barcelona, há quilômetros para cima de Sevilha, quase na França... A resposta é: “Meu bem, Espanha não é Europa...” Fim... um balde d’água fria!


sexta-feira, novembro 13, 2015

Vagão restaurante

Estou me adiantando um pouco na postagem porque hoje é a primeira vez que tiro “férias”. Elas durarão quatro dias em uma das cidades que mais acho fodas no mundo: Barcelona. Digo férias, porque, por mais que eu esteja só gastando e não oficialmente empregada, estou me colocando na responsabilidade de produzir.

Como já foi dito antes, a língua é um impeditivo da boa subsistência, mas hoje me dei uma trégua por acreditar que, por mais que um estrangeiro passe a vida toda no Brasil, por exemplo, nunca vai ser um falador de português nato. O cara vai trocar o “o” por “a”, misturando masculino e feminino em algum momento da vida. Por mais que eu não saiba se “los manos” ou “las manos” é que é o certo, vou me dar ao luxo de ser estrangeira por algum momento.

Mas por que eu estou levantando o assunto sobre modos de falar em um parágrafo logo após mencionar a minha exigência produtiva? Porque, claro, a gostosona aqui está tendo que se ferrar muito em outras línguas para ler textos. Aí pensa em voz alta (tendo monólogos contínuos): “Por que eu não levei a sério as aulas da Sueli? Por que matava as aulas da Sueli no playground do edifício onde moravam meus amigos ricos?” Quem é Sueli? A professora de inglês. Poderia ter usado aparelho de dentes direito, frequentado as aulas de piano a sério e ido pelo menos ao CCAA. Bah!

Estou agora em um trem que passarei as próximas 12 horas a caminho de Barcelona. De Sevilha para Barcelona são trocentos quilômetros que poderiam ser reduzidos a 5 horas ou 6. Mas para que pagar o dobro da passagem em Euro para fazer a viagem mais rápido se posso ver a vista, frequentar o vagão restaurante, procurar desesperadamente uma tomada, enfrentar o vaso sanitário sem tampa todo mijado depois que a porra do velho fumou lá dentro do banheiro? Além disso, se pode desfrutar o glamour da cafeteria a a simpatia da “camarera”: “Qué quiéres (mierda!)? Olé... to na Europa, baby!

Naquela cafeteria havia uma senhorita com trajes a lá “poncho e Conga”, vulgo “bicho-grilo” que após olhar atentamente a carta, pede: “um copinho de leite grande, por favor”. Agora me diz... que tipo de gente vai tomar um copo de leite em um trem que vai passar 12 horas? A dita disse para a garçonete que trazia seu próprio lanche. É claro que fiquei de olho, né!? Sacou um pão de forma de grãos caseiro e duas bananas. Uma ela amassou e passou no pão. A outra ela comeu mesmo. Depois perguntou pra garçonete se tinha mel e traçou outro copo de leite puro... Outra bunda na disputa do cocô no vaso metálico respingado de mijo do velho! Vai fazer cocô daqui até Barcelona!

Fazendo um parêntesis aqui, ela acabou de sentar-se perto de mim no vagão restaurante. Está lendo a versão espanhola de “Minutos de Sabedoria”! Ou seja, nem conversei com a garota, mas já achei chata pra caralho, ou “de los cojones”! Tenho um pouco de preguiça de gente que se alimenta saudavelmente... desculpe, mas um presuntinho de vez em quando... vou morrer com fígado, assim como todos eles, estragado, mas vai estar no mesmo lugar!

Bem, viagem que segue... Já passamos por Córdoba, Andujar e seguimos adiante rumo à Albacete, Cacete, Alicante, Alicate, Valência, Valença... até Barcelona! Afinal de contas, não é o trem que vai pra Central, passando por Curicica, Austin, Rodilândia com uma baldeada em Queimados, né!? Também não é a maria-fumaça que saía de Barra Mansa para Arantina com os bancos de madeira, que já chegamos a entrar pela janela num carnaval... Muito menos aquele trem da seresta que sai de São Lourenço e vai para Soledade de Minas... É Europa, baby! Vai corna... chu chu...



segunda-feira, novembro 09, 2015

O consCerto

Acordei dia desses com uma palavra: "arreglar". Em espanhol ela significa "consertar", mas se eu fosse na minha própria etimologia, a cultural barramansense, daria o significado de "colocar regras". Regras fazem parte das nossas vidas todo o tempo. E a impressão que tenho é a de que estando em outro país, é como se aprendesse a errar e acertar o tempo todo, ou seja, aprender as regras de novo. Dentre todos os protocolos, o que vou falar hoje é de como o dia-a-dia nos ajuda filosófica e antropologicamente.

Estou há dias com a janela do quarto fechada. Parecia mesmo que ela estava fechada para sempre. Puxa vida, logo aquela janelinha que eu estava usando para pendurar as calcinhas molhadas... aquela que bate o sol estratégico! Antes do que se pense algo: "como pendurar calcinhas na janela??"- explico que aqui não é feio pendurar roupas para secar do lado de fora. Os vizinhos só faltam pendurar a mãe no parapeito! Eis que veio a proprietária do apartamento para ver o que tinha acontecido e se certificou que, ao tirar a janela do lugar para lavá-la, montou com o ferrolho para o lado de fora... ou seja, para abrir, só na gambiarra! HÁ, é aí que eu entro! Fui dormir arquitetando como abriria aquela bendita janela sem maiores prejuízos. Amanheceu o dia e fui lá encarar a persiana de fora, que estava fechada, me colocando pendurada na janela da cozinha, posicionada no quarto andar... munida de cabos de vassouras, guarda-chuva, pá de lixo, entre jeitos e forças, abri a janela! Ou seja, criei a minha regra diante do objeto cultural espanhol, da maneira que eu tinha, usando as experiências anteriores! Ou seja, sapatão que se preze, abre a porra da janela!

Das regras, é interessante aprender com elas. Ponto se ganha a cada avanço no aprendizado. No mesmo dia que me orgulho de vencer a etapa da janela quebrada, não encontro mais a toalha que pendurei. Ou seja, caiu lá embaixo... 13 Euros para os pombos. Se me cabe uma explicação, os telhadinhos lá de baixo não podem ser limpos pelos próprios donos deles: estão emendados um ao outro com objetos que vão desde pregadores perdidos, passando por lixo de TODO tipo, à colchas e brinquedos. Quando consegui falar com a tia do primeiro andar ela disse que retirar aquela toalha estava difícil. Pedi um esfregão (não sei falar vassoura) e a velha senhora, ao recorrer à parte de trás da porta da cozinha onde estavam os objetos de limpeza, me saca um ENORME gancho, que, preso a ele, tinha uma linha de pesca com vários anzóis. Ela é preparadíssima para a pesca profissional de calcinha de telhado! Agradeci e subi. A toalha já estava seca e tenho medo agora de piolhos de pombos dentro da minha casa.

Desci depois de um banho e estava ali, na porta da tia, duas meínhas nas quais sequer dei falta! Tenho que aprender a ciência de prender objetos no varal sem que eles caiam na casa da vizinha. Disso tudo, uma grande lição dos protocolos: venci o medo de altura por causa de 13 Euros. Música nos meus ouvidos. Lá proxima?

segunda-feira, outubro 26, 2015

Alexander Supertramp vai às compras

Hoje estou me dando ao direito de colocar um título em uma postagem e fazer com que o texto tenha alguma relação com ele. Não há como não se comparar ao personagem que larga toda uma vida, principalmente a material para viver em um lugar inóspito! É assim que me sinto, mesmo tendo escolhido uma terra para viver que falasse uma língua próxima ao Português. Ledo engano...

Bem, fui capaz de deixar para trás as coisas que amo sim. Vendi meu carrinho verdinho que foi uma dureza para pagar e deixei meu apartamento alugado, após ter deixado um pouco do meu jeitinho. Larguei meus amores TODOS, mas trouxe o Victoria's Secret! Tudo bem, custa 9 Euros, mas isso hoje está valendo tanto...

Quando cheguei aqui vi o povo muito largado, sem dente, cocô de cachorro por todos os lados e muita gente fedida na rua. Pensei comigo mesma que eu não estava tão mal assim com aquele cabelo lavado no sabonete (postagem anterior). Pois bem, cheguei para morar em um hostal muito bem localizado... saí de Santa Teresa e vim parar no Leblon de Sevilha. Pois agora, nada dá jeito nesse cabelo de 5 cores sob a ação do tempo! Sou a pessoa mais maltrapilho de todo o sul da Espanha! Estou testando o terceiro creme.

Saí para comprar um casaco e comprei logo dois no El Corte Ingles. Agora estou eu, os dois casacos e a mala ENORME com as rodinhas empenadas morando na gaveta de guardar turista! Vou voltar depois de amanhã para a Lapa de Sevilha e aí tudo ficará bem de novo! Como diz uma amiga que mora aqui na Espanha: "Amiga, você não está na Europa... você está na África, entende?"

Comecei o assunto anterior para contar a saga na busca por apartamentos. O Brasil de hoje saiu do mix de índio com o povo daqui. Apesar de tomarmos um pouco mais de banho, há gente como a gente em todo lugar. O duro é que mesmo assim, não dá para se sentir em casa! As casas são muito esquisitas...

Procuro apartamentos com a ajuda dessa amiga e do seu marido espanhol. Não, infelizmente ela não está aqui na "África", ela está lá bem perto da França e de Santiago de Compostela. Então, tenho visto cada coisa que me despertou as mais variadas sensações e reações, indo de choro à vômito! À cada visita uma surpresa. As pessoas largam tudo para trás quando deixam as suas casas... até comida! Estou me deparando com cheiros nunca antes sentidos.

Por falar em cheiros, há uma vantagem de se estar no Leblon... Todos os dias saio daqui, passo no El Corte Ingles e utilizo uma amostra de perfume diferente! As tias daqui são muito cheirosas, mas duvido que investem 80 Euros num perfume! Mas gastam com cabelo, viu!? Em todas as conduções estão aqueles cabelos TUFO, todos trabalhados no laquê, com bastante espaço de armazenamento de vento! Contem isso para a Dilma!

Recebi um conselho esses dias que eu ficasse longe dos brasileiros! É, estou longe mesmo! Tão longe que dói! Mas, para passar a saudade encontrei-me com a bicicleta. Foi a maior descoberta para a solidão... aqui, você aluga uma bike por 7 dias e usa quando quiser. Tem pontos espalhados por toda Sevilha. Descobri que essa cidade tá é pequena! Daí, será a hora de estar com um espanhol melhor e ir à luta!

Até que a vida no hostal não é tão ruim... o fato da água não escorrer durante o banho de 0,70M2 (não cabe a minha bunda no chuveiro) e meus pés ficarem imersos, não é de todo ruim. Aliás, o que os franceses cozinham em microondas que fede tanto? Cada vez que chega um francês aqui o cheiro se espalha pelo corredor!

Tocando no assunto dos franceses e chuveiro, digo que consegui colocar os dois na mesma frase. Juro, eu tomei banho e, enquanto eu me enxugava, uma francesa deu três borrifadas na ducha e puxou a calcinha que estava para o lado de fora do box! Pensei: uma borrifada em um sovaco, outra no outro sovaco e a última na perereca. E assim, essa última que disse, teve que ser na zona do campinho (o lugar onde batem as bolas) para que pegue também a zona anal!

Voltando aos odores, estou sentindo muita falta do Confort! O sabão em pó daqui não tem cheiro e o amaciante tem cheiro de elixir paregórico

É, admiro muito quem larga tudo... não tenho a menor vocação para me desprender das coisas materiais e ir à luta! Estou encarando essa vida como um regime: na terceira semana a gente se habitua. Se não se habituar, volta à etapa anterior e começa tudo de novo! Até porque sou aquela boa e velha Kitty, craque em recomeços!

Desejem-me sorte!


domingo, outubro 18, 2015

La llave mágica

... se abre la puerta del cielo...

Uma abelha passeia por horas no meu sketchbook. Acho que ela gostou do sabor brasileiro ou se identifica com a Ellus...

Os homens são muito cavalheiros! Depois de Jesús abrir todas as portas para eu passar (no sentido literal) sento em um bar: "La taberna errante". Pergunto a dois caras que conversam ao meu lado se posso usar um banco. O assunto era algo em torno de um pagamento por serviços. O banco veio até mim sem que algum deles hesitasse. Mas... a cerveja demora até que você chame o camarero (garçon).

Fofuras múltiplas, constato no momento que a hora da "siesta" existe em Sevilha. Porém, duvido que alguém durma... os bares ficam lotados enquanto não se trabalha. E me parece que tudo volta ao normal após as 17h30, menos às sextas. Os bares ficam ainda mais lotados no fim de semana. Mas a sexta-feira é a mais legal!

Todo mundo em Sevilha dorme após a meia noite. Inclusive as velhinhas de bengala passeiam até altas horas sem companhia... caminham sozinhas e, juro, um dia desses sigo uma delas para ver o que fazem na rua a essa hora! Bem, salve dizer que não há calçadas e as ruas são de paralelepípedo, onde taxistas entram e saem no maior pau! Mas é interessante que todo mundo para na faixa. Acessibilidade ZERO, educação DEZ!

Ainda sobre a siesta, as igrejas também fecham nessa hora e obedecem o horário comercial até oito da noite. Ou seja, ninguém tem desculpa para não dormir ou rezar.

Estou fazendo algumas amizades pela rua. Essas amizades duram alguns minutos mas são bem interessantes. Quando os sevilhanos percebem que você está falando espanhol, falam mais devagar, mas mesmo assim acham graça! Tenho a percepção de que estou sendo "trollada" a todo o tempo! E tenho a impressão de que todos aqui falam português e entendem, mas preferem fazer o mais difícil para enganar o estrangeiro! Eles conversam entre si e estalam a letra "T" com a língua. Vou descobrir que merda é essa, pois não dá pra compreender NADA!

Importante ensinar à alguns brasileiros que o catalão é na Cataluña... assim, visualizando o mapa como no Brasil, eu to na Curitiba espanhola e a Catanuña fica em Pernambuco. Então... os sevilhanos firmam uma espécie de dialeto quando, principalmente falam ao telefone. Ontem uma mulher me perguntou se eu já havia entendido uma conversa ao telefone, pois ela ficou surpresa de eu entendê-la falando. Parece que o telefone é o nível HARD para se aprender a fala sevilhana. A mesma mulher andou comigo por quatro quarteirões para me levar à tal Alameda de Hércules. Eu estava perdida há 3 horas!

Não há lógica no mapa da cidade de Sevilha! Se eu andasse por outro lado, teria chegado ao ponto de destino em 10 minutos. Aí você deve estar se perguntando: "Po, Kitty, por que não usou um GPS?"- Digo que estava sem internet por 4 dias. Agora tá tudo normal! Voltando o assunto, não há linha reta dentro do Centro Histórico. Uma mesma rua pode mudar de nome umas 4 vezes. Ah, e se o ponto de referência for uma igreja, é perda de tempo tentar decorar... nessa parada de ficar perdida, passei por umas 19 igrejas e já não guardava mais o nome da santa anterior!

Voltando ao lance do dialeto, apesar de não dar para entender o que os sevilhanos dizem entre si, se prestar bem atenção à conversa, dá para saber ao menos do que estão falando. Após escutar uma palavra besta, tipo "latido", logo após eles imitam um cachorro e dizem: "perro"! - Dá até um certo alívio. Uma coisa legal é quando eles também percebem que você não entendeu algo eles repetem a pergunta!

Faz parte do espanhol sevilhano se comer algumas letras. É como um cearês. Plaza (praça) se diz: PLA_A; quiosco (quiosque, banca), se diz: QUIO_CO.

Meu professor mandou eu dormir dizendo que eu estava com cara de cansada. Estou eu aqui na Taberna Errante. Hasta Luego... vou para a minha siesta após a última "caña" (um chopp garotinho).

PS: Um "tercio" é um copo de uísque com cerveja dentro; uma "pinta" é uma caneca enorme de cerveja; uma "botella" é uma longneck; um "botellin" é um Dollinho de cerveja (ou caçulinha).

PS2: Esqueci de dizer que o uso do ITO ou ITA no final das palavras não é portunhol. Se não se entende o que quer, coloque um ITO no final e faça um gesto. Eles te falarão a palavra certa e darão um sorriso.

Sobre a chave mágica, Jesús hoje me deu chaves de um escritório onde terei a minha mesa.

quarta-feira, abril 01, 2015

Comida aos 40: uma linha tênue entre o exagero e o over

Essa postagem vai para o meu amigo Alden Neves, com uma singela homenagem à Patrícia Cortêz, Paula Leoni e Paula Balbi, meus nutricionistas inseparáveis! E ao meu amigo Silvio (pela parte que cabe à prática de esportes)

Semana passada eu estava querendo uma droga que juntasse tudo o que estava separado na minha cabeça. A sensação é de uma explosão de conhecimento, dividindo o cérebro em quatro. Cada pedacinho está fragmentado e criando seu próprio mundo, lá na esquizofrenia das minhas leituras... Pensei em Ritalina e cheguei a esboçar isso para algumas pessoas. - Rita Lee? - Me perguntou Dudu. - Rita Lee iria separar ainda mais, porque até pudim iria virar fritura! - Respondi. Quero realmente algo que cole "lé com cré"e eu sei que é químico ou físico!

Pensando bem, uma coisa que funciona bem para mim é o conhecimento de culinária. É por causa de ter aprendido a cozinhar e me apaixonar, que hoje, após 8 anos, que adquiri uns 30 quilos a mais. Engordei de felicidade, de feijoadinha, churrasquinho e risotinho de amor nos finais de semana.

Não foi a primeira vez que engordei, sabe!? Já ganhei outros trinta em outras oportunidades... emagreci um tanto na deprê. Aliás, não há coisa que me faça emagrecer tanto como o pé na bunda! Claro que o pé na bunda com uma dose por dia de Fluoxetina é a combinação perfeita... mas taí uma coisa que não quero arriscar mais... vamos emagrecer agora pelos métodos tradicionais.

Amiga minha esta semana disse que após os 45 você aperta aquele famoso botão: que começa com F e termida com ôda-se... ela falou que hoje ela chega em casa e "tampa" no vinho com queijinho com o maridão. É aí que está o ponto... a felicidade engorda e esse é o meu problema!

Estou tentando emagrecer e sempre tem uma nova receita! Meu nutricionista disse que o método é comer de três em três horas. Agora resolvi ler o resto da dieta, porque eu estava levando isso bem a sério... agora eu como coisas leves de três em três horas, porque antes eu era religiosa: uma pururuquinha na primeira hora, depois um pedaço de torta alemã, dali há três horas uma bolinha de picanha com farofa... sempre de três em três horas... teve um dia que comi um ovo de páscoa inteiro em um dia! Foi bem legal! #sqn

Estou obedecendo aquele lance de equilíbrio de carboidratos com proteína e muito mato! Mas não sei o que acontece, porque eu acordo e tenho um peso, mas juro, é só ir à cozinha para dar uma volta que retorno, subo na balança e estou com 2 quilos a mais. Tudo bem que a minha balança eu adquiri em uma ida à Aparecida do Norte e ela funciona com pilhas AAA, mas o mesmo ocorre com uma balança de ponteiro que tenho. Não, não posso ir à cozinha nem em pensamento que a minha bunda aumenta 3cm. Recorreremos à máxima do Diabo Veste Prada: "não se pode comer nada, mas nada mesmo... quando você tiver para desmaiar, coma um pedacinho de queijo!"

Se estou tão feliz, por que quero tanto emagrecer? Essa é a dúvida que até eu tenho. A resposta é que quando sento em uma cadeira, não saberei se ela já estava rachada. Se ela quebrar, é lógico que a culpa vai ser da gorda! Acontece que também não posso há tempos usar roupas coloridas porque estimulo pensamentos do tipo: "aquela gorda não tem senso de ridículo?" Já ouvi motivos do tipo: "quero emagrecer para ter saúde!" Não, não é esse o motivo ainda... deixa para quando ela me faltar (após os 45)!

Outra coisa bem difícil desse momento emagrecimento é a exigência da prática de esportes. Quero ver o sujeito fazer o que eu faço, com a artimanha e a sagacidade da Kittyzinha das candongas, e ainda dar uma malhadinha. Quando eu acordo e penso em pegar uma malha de ginástica, já estou cansada. Cá entre nós, a boa desculpa é a de não ter malha de ginástica pra gorda no comércio brasileiro! Nada melhor do que perder essa hora aí do esporte na frente do videogame, da TV ou algo que me faça ainda mais sedentária. Aliás, não me estimulo a nada que me traga grandes movimentos, porque as pessoas que fazem isso estão sempre quebradas! Uma outra amiga estava correndo na chuva, tropeçou e caiu de cara em um entulho de obra, rendendo uma cirurgia plástica e muita aporrinhação. Agora me diz, esporte faz bem pra saúde? Sério?? Sem contar com as inúmeras tendinites, braços quebrados e outras avarias que só o exercício físico traz para você!

Os entusiastas e todos os profissionais que admiro me dizem que as minhas performances melhorarão com a adoção de alguns hábitos! Agora me respondam de novo: Alguém já melhorou a performance na cama por ter brindado com suco verde no jantar? Porque não tem coisa mais pentelha do que amigo que começa a correr! #prontofalei Como já não bastasse o ser humano se ferrar até a última gota e ainda quer levar todo mundo junto! Gente, as pessoas estão acordando domingo de manhã para correr 7 (SETE) Quilômetros! Não me ligue domingo de manhã... me deixa ter a minha ressaca em paz! Não há felicidade entre as pessoas que não bebem! Não consigo conceber!

Tá, tenho trauma de uma época distante... mudemos de assunto!

Mas lembrei de uma coisa sobre a prática de esportes. Só mais uma coisinha (com sangue nos ói): o cara acorda cedo, carrega não sei quantos quilos de CORDA, um monte de arame e se pendura numa pedra. Para que? Ver a vista! Esses dias mesmo andando de barco em Paraty, passando pelo Saco do Mamanguá, avisto pessoas, quase que não dava para vê-las... elas haviam subido uma pedra enorme na beira do mar. Para que? Para ver a vista... na beira do mar!!! Gente, tem peixe, tem camarão frito, dá pra nadar ó... faz natação... mas não me convide para subir uma pedra! Eu vi 127 Horas! Já terminei um namoro na subida para uma cachoeira por ter sido enganada sobre a metragem da trilha. Pronto, não falo mais nada!

Agora estou aqui, à beira do meu aniversário de 40. Na primeira hora comi torradinha com queijinho branco, três horas depois uma maçã, três horas depois um almocinho equilibrado, depois um balde de melancia, um iogurte e um jantarzinho sem carboidrato. Meu aplicativo marca 1600 calorias! Legal! Daqui há 24 horas estarei bebendo toda a cerveja do bar, comendo toda carne seca com aipim e o pé da mesa... mas sempre de três em três horas! Vou subir na balança na segunda e ficarei muito feliz, porque segunda é o dia universal da dieta! E viva o Triptofano* com Sucrilhos Kellog's!

*Só os fortes entenderão!

domingo, março 01, 2015

Poliana velha: a arte de ver o lado bom das coisas aos 40 anos

Postei há alguns dias no Fafabookson que iria escrever um livro que poderia ser um possível bestseller: "Poliana velha: a arte de ver o lado bom das coisas aos 40 anos". O post causou uma imensa comoção, principalmente entre os meus amigos que já fizeram 40.

Para quem não sabe, Poliana era aquela menina que sofriiiiaaaaa "o pão que o diabo amassou", mas no fundo, toda destruída, sem dente e machucada, ainda se contentava em "ouvir o canto dos pássaros". Percebi que sou muito parecida com aquela garota, pois na infância, em meio ao bullying que sofri, às intempéries da família e, ao crescer, até com a perda da minha mãe, sempre enxerguei o lado bom das coisas!

Minha infância não foi fácil! Ao contrário do que muitos adultos falam, ser criança é uma tarefa muito difícil... alguém se lembra da dureza que foi largar a fralda e começar a usar o pinico? Uma das coisas mais difíceis para mim foi a hora de parar de andar pelada! Já nadei muito depois de velha pelada na piscina da Tia Berê, no rio de Penedo depois do Finlandês e, assim que cheguei na faculdade, no rio dos Pilões depois das boates. É, acho que nesse quesito eu não aprendi a parar de ser criança. E assim sabem todos os meus amigos que frequentam a minha casa. Minha perereca já não é nenhuma novidade!

Outra dificuldade na infância foi o momento de andar como menina. Minhas amigas sempre me amavam, mesmo eu sendo reconhecidamente um sapatão! Eu nem sabia o que era isso, mas me incomodava com os xingamentos, pois aquilo que eu era (um ser indefinido), já ganhou o adjetivo de andrógeno posteriormente e lésbica anos depois. Mas o verdadeiro motivo daquele nome era porque eu gostava de jogar futebol, queria ter um "peru"para mijar na parede igual ao do Cesinha. Não, ele nunca deixou que eu visse o dele, nem mesmo quando ele operou de fimose. Mas o fato de eu andar de macacão, de camisa do Flamengo, não gostar de pentear o cabelo e andar toda ralada de skate e bicicleta sempre incomodou.

Hoje uso Helena Rubinstein (lembram), Claude Bergére e Acqua Fresca do Boticário. Hoje sou uma mulher! Brincadeira... Haja MAC para se disfarçar...

O lado bom se ser sapatão é beijar meninas! Mesmo que isso tenha acontecido depois de velha, ainda fiquei sem saber se era ou não até muito depois de beijar a primeira mulher da minha vida. Eu disse que não era fácil! Não é fácil assumir a homossexualidade publicamente nem nos dias de hoje. Hoje beijo uma boca só, eu juro (para fins de procriação)... Beijo muitas bocas! Meus amigos assim o fazem comigo. Comoção mesmo é quando beijo minha irmã em público... vejo as pessoas se entreolharem e desconfiarem... dela, é claro! Mas é interessante, que minha namorada mesmo não beijo em público, mas todo mundo sabe da gente! Vai entender...

Uma dificuldade na minha infância foi a convivência com meus amigos usando drogas. Eu, como tinha uma mãe muito brava, sempre tive medo de fumar maconha! Mas acompanhei de perto algumas pessoas se afundarem nisso aí (não na maconha, é claro)! Bem, mas confesso que a cachaça entrou na minha vida cedo... afinal de contas, como eu ia ficar perto para ajudar se não fosse um deles? A cerveja foi meu uniforme de camuflagem. E é até hoje. Ela é uma boa arma para me aproximar das pessoas mais difíceis! Esse foi o lado bom... Porém, tive que aprender e lidar com as perdas que tive por causa do álcool: muitos amigos ficaram pelas estradas e não voltaram para casa. É, temos que passar os nossos 40 anos sem eles fazerem seus 40.

E por falar em aprendizado, não tem como não aprender com as perdas. Acredito que essa escola é a mais dura: a escola da morte! Hoje, aos 40, sei o quanto elas são importantes para fazer a gente "aprumar" e relembrar o que realmente é importante! Aprendi com cada perda, tenho certeza. Agora as vejo como renovação, como outro tipo de ganho! Minha mãe se foi, mas deixou eu e minha irmã muito fortes, eu e meu pai grandes amigos, eu e minha avó "chapas"! É, essa última perda aí... bem... ainda vou aprender com ela!

Mas é incrível o legado que a gente deixa em vida! Fazem 17 anos que mamãe morreu, mas não se pode falar dela com suas amigas, que elas ainda choram... até que é divertido ver as velhas me pararem na rua e relembrando alguma peripécia da minha mãe: da coca-cola que ela bebia em litros, dos cigarros que ela fumava e até dela andando de pijama na rua! As coisas dela são relembradas até pelos meus amigos:

- Kitty, sua mãe matava a gente de vergonha indo buscar a gente na escola de chinelo de dormir! - dizia Juju em uma conversa.
- Nossa, Tia Uyara apertava tanto a minha bochecha!

Ela já quiz me casar com o Cesinha, com o Marcus e até com o Amaral! Eu já fui apaixonada por todos eles, confesso! E ela dizia: "Cristiana não vai casar nunca, porque fica logo amiga desses meninos". Ficando amiga, eu já virava cupido de novos casais... nem queria beijar não, era admiração de "parça"! Engraçado... mamãe nunca quiz que eu me casasse com o Juninho, com o Edson, com o Agnaldo e, muito menos com o Benê! Só de birra, mãe, hoje vou me casar com a Ariane. Falta só ela pedir direito e marcar de fato!

Minha casa já foi palco de muito chororô por término de namoro, divã das lamentações, muro de proteção, camarim das fantasias e blocos de carnaval... Ah, Xumbreca levou um vestido vermelho e nunca mais entregou! Mas nossa casa também já foi palco para representação e ringue de luta! Quando era para dar bronca, minha mãe não tinha para ninguém... afinal de contas, ela era professora de metade dos meus amigos e eles tinham muito medo dela, mas com profunda admiração!

Quando minha mãe tinha 40 anos, eu tinha 12. Imagine agora seu eu tivesse uma filha de 12? Minhas amigas até já têm filhos de 12 e que passaram dos 12. Mas acreditem, esses filhos não foram metade do que nós fomos! Essa era uma célebre frase de Dona Uyara na minha adolescência: "ela não é metade do que eu era!" Tudo bem, ela também não sabia de metade do que eu fazia... levemos isso em consideração.

Aos 12 anos sonhávamos com muitas coisas... eu não sonhava em ser professora, mas foi nessa idade que conheci o meu mano Márcio. E foi por causa dele que eu sonhava com o mar, em pegar onda! Era com ele que eu escutava punk e falava de skate. Foi nesse tempo que eu comecei a andar com uma rapaziada da pesada... e por causa dele, hoje sou designer! Agora que me dei conta que ele foi o primeiro a fazer 40! Ah, aos 12 tomei meu primeiro porre e comecei a dirigir... acreditem... tudo devidamente escondidinho da minha mãe! Eu disse!

Já que falamos na ordem das coisas, eu ainda não fiz 40! Tudo começou com o "homem mais velho do mundo", o titio Marcus. Percebi hoje que o último post foi no dia do aniversário dele! Na verdade, teve a Érica e a Flávia antes, mas eu sempre gostei de ligar no 23 de Dezembro e dizer: "Tá ficando velho, héim, amigo!?" O mais velho de nós (em comportamento) também é o mais rico... dizem que faz tempo que não sorri! Já foi quase a galera toda... e os meus 40... nem te conto!

Nos meus 30 anos decidi comemorar em uma borracharia ou em uma oficina mecânica. Decorei um espaço com uma carreta de sucata, devidamente patrocinada pela Metalúrgica Vulcano, ao som de Alex e Dj Fabiano. A festa teve o título: "A Kitty este ano é a garota do calendário: aos 30 Km rodados é a hora de parar para dar uma geral". Chamei todos os meus amigos verdadeiros (que eram mais de 100) e ali recebi o povo de Lorena, de Barra Mansa, do Rio, de Niterói, de Bom Jardim de Minas...

Nos meus 40 não vou fazer festa! Tenho que juntar grana para realizar um daqueles sonhos lá... lá dos 12 anos... É muito importante nesses 40 fazer um retrospecto de que eu realizei muita coisa e da galera que adquiri nacional e internacionalmente (sem um puto no bolso). Não, meus amigos não cabem em uma só mão... e olha que a minha tolerância para as coisas que não acredito serem as certas diminui a cada dia... amo cada um desses meus amigos de perto e distantes!

A sorte sempre me ajudou quando eu "arregacei as mangas". Não nasci rica, mas para cada etapa realizada tive que "dar um passo para trás" antes. Então, acumulei cada experiência... já embrulhei velocípede com a Érica rindo da minha cara, já entreguei bujão de gás empurrando a Fiorino, já fui garçonete "dando uma canja" de vez em quando, estagiei em uma indústria de dinamite, já servi sorvete na Girafus... Depois da faculdade meu primeiro salário foi R$150,00 na Federação de Bandeirantes do Brasil... e daí, só com muita estafa e cachaça para as coisas darem certo! Um segredo também para sonhos se realizarem é saber desenhar, tocar violão e escrever.

Todo mundo sabe o que eu faço hoje: sou professora universitária. Esse acaso se deu mais tarde. Agora leciono porque em um daqueles banhos de rio noturnos, sonhei com o Bibo em trazer o Design para o interior. E por causa disso, hoje na Região muita gente fala em Design. Coordeno uma equipe de 15 designers e outros agregados. E, se eu souber que tem algum aluno não fazendo aquilo que eu, o Bibo e a Ana Paula acreditamos, vai ganhar um puxão de orelha... sou filha da Dona Uyara. Tenho um legado a deixar!

Esse post só acontece porque minha irmã pediu. E estou há um mês de ser a próxima na fila dos 40. O lado bom da vida em meio a essas dificuldades? Os amigos que fiz, sem dúvida! Não vai haver festa de 40 porque não caberia em nenhum lugar todos os meus amigos! Por isso decidi fazer a contagem regressiva na rede www. Mas venho ganhando presentes desde o nascimento do Yuri, da Mariana, do Arthur e da Julia... depois, Maria, Marina, João Pedro, Davi, Luiza(s), Bibi, Pedro, Helena, Bia, Francisco(s) etc etc... e é claro, depois de tantas vezes madrinha de casamento (uns 8 no total), 3 presentões: Kamea, Clarinha e Giovana, meus afilhados! E um que cresce em metros cúbicos: Erick! Sejam bem vindos todos esses presentinhos que estão chegando, pois sei que esse povinho dará uma bela continuidade naquilo que sonhamos juntos!

Fiquem despreocupados, meus amigos... essas crianças vão roubar carro, transar sem camisinha e fumar maconha, assim como vocês os fizeram. A vantagem é que, enquanto vocês estiverem dormindo, eu vou estar na balada de olho, enchendo alguns copos com cerveja e dando uns tapas nas orelhas se fizerem merda! Pode dormir sossegado, Matuzalém!

Hoje posso dizer que aos 40 sou realizada! Estou ao lado do grande amor da minha vida, papai está bem e Dany me proporciona grandes momentos em sua própria casa de praia.

Bora largar o rivotril, meu povo, e transar muito! Esse é o segredo de ver o lado bom das coisas! Tem um temperinho especial: saber falar palavrão e ligar um grande FODA-SE na hora certa! Funciona que é uma beleza!

E fecho com uma célebre frase: "Não quero morrer com a sensação de não ter vivido certas coisas!" (Malfacini, Ana Linspector)

Até dia 02 de Abril!