segunda-feira, novembro 09, 2015

O consCerto

Acordei dia desses com uma palavra: "arreglar". Em espanhol ela significa "consertar", mas se eu fosse na minha própria etimologia, a cultural barramansense, daria o significado de "colocar regras". Regras fazem parte das nossas vidas todo o tempo. E a impressão que tenho é a de que estando em outro país, é como se aprendesse a errar e acertar o tempo todo, ou seja, aprender as regras de novo. Dentre todos os protocolos, o que vou falar hoje é de como o dia-a-dia nos ajuda filosófica e antropologicamente.

Estou há dias com a janela do quarto fechada. Parecia mesmo que ela estava fechada para sempre. Puxa vida, logo aquela janelinha que eu estava usando para pendurar as calcinhas molhadas... aquela que bate o sol estratégico! Antes do que se pense algo: "como pendurar calcinhas na janela??"- explico que aqui não é feio pendurar roupas para secar do lado de fora. Os vizinhos só faltam pendurar a mãe no parapeito! Eis que veio a proprietária do apartamento para ver o que tinha acontecido e se certificou que, ao tirar a janela do lugar para lavá-la, montou com o ferrolho para o lado de fora... ou seja, para abrir, só na gambiarra! HÁ, é aí que eu entro! Fui dormir arquitetando como abriria aquela bendita janela sem maiores prejuízos. Amanheceu o dia e fui lá encarar a persiana de fora, que estava fechada, me colocando pendurada na janela da cozinha, posicionada no quarto andar... munida de cabos de vassouras, guarda-chuva, pá de lixo, entre jeitos e forças, abri a janela! Ou seja, criei a minha regra diante do objeto cultural espanhol, da maneira que eu tinha, usando as experiências anteriores! Ou seja, sapatão que se preze, abre a porra da janela!

Das regras, é interessante aprender com elas. Ponto se ganha a cada avanço no aprendizado. No mesmo dia que me orgulho de vencer a etapa da janela quebrada, não encontro mais a toalha que pendurei. Ou seja, caiu lá embaixo... 13 Euros para os pombos. Se me cabe uma explicação, os telhadinhos lá de baixo não podem ser limpos pelos próprios donos deles: estão emendados um ao outro com objetos que vão desde pregadores perdidos, passando por lixo de TODO tipo, à colchas e brinquedos. Quando consegui falar com a tia do primeiro andar ela disse que retirar aquela toalha estava difícil. Pedi um esfregão (não sei falar vassoura) e a velha senhora, ao recorrer à parte de trás da porta da cozinha onde estavam os objetos de limpeza, me saca um ENORME gancho, que, preso a ele, tinha uma linha de pesca com vários anzóis. Ela é preparadíssima para a pesca profissional de calcinha de telhado! Agradeci e subi. A toalha já estava seca e tenho medo agora de piolhos de pombos dentro da minha casa.

Desci depois de um banho e estava ali, na porta da tia, duas meínhas nas quais sequer dei falta! Tenho que aprender a ciência de prender objetos no varal sem que eles caiam na casa da vizinha. Disso tudo, uma grande lição dos protocolos: venci o medo de altura por causa de 13 Euros. Música nos meus ouvidos. Lá proxima?