segunda-feira, junho 20, 2016

Fazer e mudar: conjecturas de uma vida calcada em mudanças

Eu não aceito desculpas à falta de tempo. Na realidade eu tenho muito pouca paciência para desculpas. Isso chega em um nível em que, quando eu tenho que dar uma desculpa para algo que eu (ainda) não tenha feito, me encho de vergonha e me questiono muito!

Esse post faz parte do tamanho da insegurança que eu tenho em relação ao meu retorno para o Brasil. Escrevo isso em um tom de desabafo. Ela começa pelo fato de que a impaciência é parceira da pressa. Será que eu voltaria para a mesma realidade com outra configuração ou simplesmente deveria aceitar a lentidão das coisas, a falta de compromisso e as eternas desculpas? Bem, nessa reflexão filosófica, me coloco aqui numa posição bem difícil! Só porque aqui eu sou dona do meu tempo? Esse limiar, ao passo que serve de carga para ao meu maior dom, o de procrastinar, me enche de responsabilidades frente às apostas que em mim foram feitas.

Quando eu estava para vir para cá as inseguranças eram obviamente outras. Mas a vontade do novo me enchia de projetos. O mudar de casa, o mudar de cidade e, agora, o mudar de país, sempre fizeram parte da vida da minha família, só que isso dá uma série de medos. Com a idade, o resgate ao que é rotineiro serve como uma espécie de infraestrutura. Então, onde morar, como comer, quanto vou gastar, são preocupações de quem ainda tem muito a crescer e aprender com a jovem que mora dentro de mim mesma. O interessante é que isso agora não faz parte do retorno, apesar da situação pretender-se totalmente inovadora!

Usei a palavra inovação no último parágrafo de propósito. O "novo" está sempre associado com algo que ficou no passado. E o que é a inovação, senão a repaginação daquilo que a gente já conhece? Pois inovar presume-se em dar amparo àquilo que desconforta o ser humano.

Aí eu paro para ver o ritmo dos locais aonde eu vivo. Tudo acontece no seu tempo! O professor da universidade onde eu estou se aposentou com as pessoas fazendo uma linda homenagem para ele em sua "última aula". Só que esse cara deixou um legado riquíssimo formado de profissionais orientados por ele algum dia, teses e teses nas quais ele não só foi coadjuvante como foi julgador e mais de 10 livros publicados, nos quais ele foi autor principal, fora os que ele colaborou. O professor está entrando na casa dos 80 anos e me confessou que começou tudo isso quando ele ingressou como professor adjunto na faculdade, com 47 anos! Eu tenho 41. Me resta um tempo aí... alívio! Porém, olhando o ritmo desse homem é que me traz hoje a documentar o modus operandi dos andaluzes.

Algumas vezes cheguei ao escritório que divido com esse professor mencionado e ele estava dormindo, não um sono profundo, mas tirando uma leve soneca; a famosa siesta. Não teve um só dia que ele estivesse ficado na universidade até mais tarde do seu horário, mas é certo que ele chegava pontualmente cedo para dar as suas inúmeras aulas! Sua mesa sempre estava cheia de papéis, que se tratam de trabalhos para corrigir, copiões de teses, provas etc... daí se vê a quantidade de tarefas diárias que ele acumulava. Foi ele mesmo o autor de muitas frases que me fez pensar, como a do assunto em questão: "devemos escrever todos os dias para exercitar o pensamento". E não é que dá certo? Acho que o segredinho está nisso, como podemos tomar este ensinamento para todas as nossas coisas da vida. Exercitar todos os dias para manter o corpo em forma, raciocinar sobre todas as suas atitudes e, o mais importante, fazer para poder errar e depois acertar... sair do mundo das idéias e parar de projetar, mas executar!

Vemos todos os dias pessoas muito boas naquilo que fazem. Já me peguei pensando várias vezes enquanto pessoas que eu admiro falavam, coisas do tipo: "Onde eu estava e o que eu estava fazendo enquanto esse cara lia esse tanto de coisas?" ou "Aonde eu estava que eu não vi tudo isso que esse cara viu?"... É, o que faz com que eu siga admirando alguém é a capacidade que essa pessoa desenvolve em fazer coisas que eu tenho tanta dificuldade em fazer. E, como eu disse um dia desses em rede social: "O que faz as pessoas admirarem ou não umas às outras é o que elas fazem por elas mesmas". Percebi que os seres mal sucedidos são vítimas das suas fraquezas e isso é muito triste. Digo isso porque quanto mais se deve investir em si mesmo, mais cercado de gente te admirando o sujeito estará. E, quando esse cara coleciona fracassos, segue sozinho. Porém, há um remédio que deve ser usado com moderação: o pedir ajuda. Mas a dose deve ser empregada corretamente, aceitando e utilizando. A pessoa às vezes até pede, mas acaba abandonando o uso e ficando doente... frustrado.

Daí, escrevendo isso me passa um sem número de fatos ocorridos durante a minha vida em que fui vítima desses pensamentos também. Só que, com toda a fama de teimosa, aplico a ajuda na veia, como um remédio dolorido, tipo BEZETACIL. Só tem uma coisa... a receita deve vir do especialista certo, aquele cara que acumula êxitos... aquele que eu deva sempre me espelhar e admirar.

Quem me conhece sabe a quantidade de reviravoltas que ocorreram na minha vida. Porém, a Poliana velha que vos fala, é aquela que segue tentando, pulando de casa em casa, acreditando no universo, que tanto conspira! Esse post pode servir de armadilha, pois corro o risco de ser pedante demais me fazendo parecer estar acima das outras pessoas. Muito pelo contrário, a título de esclarecimento, sigo agora trabalhando as minhas maiores dificuldades, tentando vencê-las todos os dias. Porque cada dia que se acorda morando só em um país diferente, está longe fisicamente das pessoas que você mais admira. Luta diária!

Então, façamos o seguinte... acumulemos as experiências, dominemos os nossos inimigos e respeitemos o nosso próprio tempo. Sim, porque muito mais do que o ritmo do outro, o nosso próprio é a principal ferramenta, independente das expectativas dos seus admiradores.

Porque é o que eu estou fazendo por mim mesma.... todos os dias.