terça-feira, junho 14, 2016

Inovação no interior (da alma)

Fui bem profunda ao confeccionar este título, tentando na medida do possível, não ser passional. Mas não tem como! É que eu hoje me deparei com um email de um colega, ex-aluno, ex-orientando, que depois de vir me "cutucar" há semanas, está provocando o meu estar Kitty, despertando as minhas incomodações. Como ele mesmo disse, Kitty sendo Kitty, ao já querer objetifcar as coisas. Não sei o seu desejo, caro Elvis, mas o meu é este aqui... não deixar passar uma linha!

As indagações de Elvis vêm no meio de alguma coisa que estou fazendo e, em se tratando das minhas pesquisas recentes e à minha trajetória, todas estão relacionadas ao ensino. As perguntas são sobre o mercado da região, sobre experiências e linguagem. De uma certa maneira, acredito que elas se relacionam, porque o ser humano está no centro da questão. Não querendo divagar aqui no ambiente da Antropologia, até porque eu não tenho instrumento para isso, a minha aposta para qualquer problema é sempre o sujeito.

Hoje o questionamento foi sobre um comerciante querer inovar ou não, frente às novas ideias de uma geração que está crescendo tecnológica. Na minha opinião, é um erro quando inovação é aliada à tecnologia diretamente. Não é porque um supermercado não tem um site para vendas que ele está deixando de ser inovador. Não é isso, mas justamente a resposta está no porquê dele ter ou não um aplicativo. Pontuei algumas coisas pro Elvis e reflito sobre elas agora.

Toda a problemática existente na maioria das empresas nas cidades de interior é a zona de conforto aliada a falta de costume de pagar por serviços. Aliás, nem sei se esse é um típico problema de interior. Acho que é um problema brasileiro mesmo. Todos nós designers recebemos propostas de negociação dos valores de trabalhos porque a concorrência (desleal) está batendo à porta. Além disso, é mais comum alguém pedir desconto na costureira do que na loja de ferragens. É como se o produto tivesse mais valor do que o serviço prestado. Desconto até se pede, mas tem um limite, uma oferta, porque a precificação em cima do produto está baseada em uma margem de lucro. E o serviço?

Tem uma outra referência que é a da informalidade na prestação de serviços e uma desonestidade iminente. Para começo de conversa, existe aí um tal famigerado B.V. (Bonificação por Volume), que é uma "comissão" oferecida pelo prestador de serviços ao designer pela "indicação" de uma gráfica, por exemplo, que se, não aparece em uma nota fiscal, é ilegal! Então, as agências de publicidade e profissionais de criação recebem um valor de 10% ou 20% porque seu trabalho não está sendo bem pago. Tem um porém... o pagador não sabe disso. Ou seja, não sou eu a dizer a respeito do que é certo ou o que é errado, mas para tecer alguma opinião como professora e profissional de Design, digo: "é feio", pra não dizer: "é crime!" Então, como fazer o contratante pagar pelo seu serviço, se o máximo que você está fazendo é querendo "levar algum" na veiculação? Só digo uma coisa... isso está mudando... Resumindo, para se fazer confiar, o cara deve se fazer confiável! #FKDK

Bem, agora se tratando diretamente do caso em análise, talvez o empresário não invista em inovação porque simplesmente não a conheça. Mas essa tal palavra aí mora na pesquisa. E não é somente a pesquisa do tipo quantitativa, que é a que ele conhece quando dói no bolso. Digo a pesquisa que pergunta os "porquês" e o "como", que merece respostas de satisfação. Será que o dono do supermercado está preparado para ouvir de um profissional que está no interior do estado? Será que ele pagaria para ouvir somente de grandes órgãos e paga por isso? Quem está preparado para oferecer isso? Quantas vezes o empresário é convidado a refletir?  Será que se os profissionais não começarem a cobrar honestidade uns dos outros não se fariam mais fortes? Fica em aberto isso aqui...

Agora, existe também o comércio ou varejo que aposta na boa relação com o cliente, mas necessita de "um toque" para melhorar com os próprios funcionários. Isso porque o time que "está na linha de frente" é o que melhor vende o negócio. Já presenciei contratados enviando clientes para a concorrência. E aí, como está o seu colaborador? Algum profissional de criação já fez essa pergunta?

Então, há muita coisa a se fazer. Um dos pontos a se observar é a auto-estima do profissional do interior com a capacitação dele para poder sugerir inovação humana ao empresário. Como disse ao Elvis, se as pessoas começam a discutir sobre as plataformas CD/vinil/MP3 é porque está faltando a música, pois todos sabemos que tem lugar para qualquer mídia, digital ou não. Vide as fábricas de vinil reabertas, o retorno à fotografia analógica e o revival ao gibi impresso (talvez eles nunca deixaram de existir).

O que a nova geração precisa, já que está imersa nas tecnologias porque cresceu com elas, é sobre relacionamentos, pois muito se ganha empurrando o carrinho do supermercado. Talvez mais do que nos gadgets, trancafiados nos seus apartamentos, escritórios ou agências de publicidade.

Concordo com o Kaio Freitas quando diz que o problema nem sempre está no empresário! Vale ler seu texto a respeito do mesmo tema! (Kaio também foi meu aluno) https://medium.com/@kaiofreitas/a-culpa-nem-sempre-%C3%A9-do-cliente-9cd42bbffa99#.atqsl2n00

Aliás, Elvis, qual é o teu endereço físico pra eu te mandar uma carta?