terça-feira, dezembro 22, 2015

Feliz Navidad

Peguei essa mania de justificar o título logo nos primeiros parágrafos em cada postagem porque ainda não tenho a destreza linguística de amarrar o enredo ao título durante a trama. Mas vou treinando. Bem, ele é para um grande amigo que foi grande responsável por eu estar aqui hoje. De uma maneira muito afetiva, fazendo uso da minha fé, colocou uma frase na minha trajetória de vida que me conduziu por um ano e meio: "você vai passar no Doutorado e ainda vai estudar no exterior". Esse meu amigo dança comigo em todos os natais uma espécie de bolero que leva o título. Bem, este ano vamos brincar separados... quem mandou?

Natal para mim sempre foi um momento de grande ansiedade e toda pessoa ansiosa está sujeita a decepcionar-se. Não, não é uma postagem triste, mas chore se quiser. Eu vou dar uma choradinha aqui... de leve... No começo essa ansiedade vinha regada de Transformers, Playmobis, robôs, bicicletas, desde que eu pedisse também uma boneca! Eu não era rica, mas meu pai vendia brinquedos. Isso facilitava muito os pedidos, pois, se o que eu quisesse não tivesse na loja, ele comprava à preço de atacado em São Paulo, Rio ou Aparecida. Ao longo dos anos isso foi ficando mais difícil, pois não se podia comprar Atari ou aparelho de som com facilidade à preços módicos. Isso não vem ao caso. A verdade é que fui bem mimadinha, mas meus pais brincavam com a coisa da "magia do Natal"! Era muito bacana e recompensador!

Quando eu era pequena íamos para a casa da minha madrinha na noite do dia 24. Apesar de eu não gostar muito da comida e das orações, o ritual de colocar o Menino Jesus na manjedoura me deixava em local de destaque, pois como eu era a menor criança da casa, essa tarefa foi minha por muitos anos. Até que nasceu seu primeiro neto e perdi o meu posto de colocadora de Menino Jesus na palha. Isso me fazia querer ir embora para casa mais cedo. Na realidade, sempre quis ir para a minha casa mais cedo, pois a madrugada do 24 de Dezembro era o momento dos presentes na árvore. Mas tiraram meu posto... primeira decepção.

Ao passar dos anos, minha mãe decidiu UNIR toda a família para o grande momento. Foi a pior coisa que ela fez para acabar com meus natais dali por diante. Primeiro porque eu era adolescente. Meu cabelo era um jubão porque não tinha produto naquele tempo! Nada que ela fizesse iria tornar meu natal mais agradável. Segundo que Dezembro no Brasil todo mundo conhece... CHEIO PRA CARALHO! Como todo Janeiro íamos para São Lourenço e depois para Niterói, eu precisaria de "roupas de menina". Naquela época os vestidos eram bem legais! Me lembro de uma coisa de moletom com capuz e um cordão... meio roupa de gente que vai surfar. Mas não sei porque minha mãe achava que roupa de menina era combinar a parte de baixo com a parte de cima. Saía por aí de pijama por insistência dela, depois de altos fights na Mesbla (porque ela tinha cartão e dividia em 10 vezes).

A noite de Natal do adolescente é a coisa mais porre que existe! Ele é obrigado a descer de banho tomado, cumprimentar todas as pessoas da sala, comer comida doce com salgada incluindo arroz de forno e ainda, apesar de já ter bebido vodka com os amigos, só beber Coca-Cola. Além disso, não é coisa de gente que está crescendo esperar os presentes na madrugada. Ou seja, acabou "procê a magia, mermão"! O que ele veria eram todas aquelas roupas da Mesbla embrulhadas para presente embaixo da árvore para fazer volume, somadas ao pijaminha que a sua avó comprou, à camisetinha que vai ganhar da tia e, no máximo um dinheirinho num envelope que virá por aí para "comprar bala". O adolescente ainda tem que ficar na sala até os convidados irem embora fazendo de conta que a conversa está ótima!

É lógico que esse adolescente mencionado acima era eu em terceira pessoa. Porém, para cada problema, tentava me sair melhor. Para as conversas chatas eu começava uma sessão de piada. Na hora todo mundo ria, depois que os convidados iam embora a sessão era de porrada! Para a questão da comida, aprendi a gostar mesmo... para a falta de álcool, comecei a beber dois anos depois e, para os presentes, eu fingia que gostava, mas a minha avó sempre tinha a surpresinha no dia 25: o envelopinho dela era bem gordinho! Mas para cada palavrão, um beliscão com a unha (aqueles que fazem a gente arder em febre) embaixo da mesa. Mas eu logo soltava: "ai, vó!""

Uma coisa divertida lá em casa era a minha mãe ficando bêbada e dançando tango com meu tio também bêbado na sala. Compensavam a sessão de Roberto Carlos e as músicas natalinas que ninguém aguentava (agora eu gosto - vide primeiro parágrafo).

E por falar em música, eu nunca podia colocar os meus discos do Balão Mágico e Pluct Plact Zum, mas a minha irmã podia colocar o 14 Bis dela à vontade! Isso au não entendia. Trauma mesmo foi eu levar bronca e ter que tirar da vitrola na mesma hora os "Bichos Escrotos" que eu tinha acabado de ganhar dos meus primos mais brother. "Que música é essa, minha filha?" Não era só pelo teor da música, pois o mesmo aconteceu com "Mixed Emotion" dos Stones no ano seguinte. Até que surgiu a gravação da Simone para músicas de Natal. Aí foi a treva!

Aos poucos o Natal foi se esvaindo, até que ficamos sem a minha mãe, mas o segredo foi sempre a música e a cerveja! Nos bastamos ali em casa, recebendo uma visita ou outra, passamos com vizinhos mais que irmãos, tornando esses dois dias de martírio mais divertidos... Este ano não vai ser igual àquele que passou... como marchinha de Carnaval, porque eu resolvi estar fora uns dias numa onda diferente. Em compensação, é tanta coisa nova surgindo... tudo aquilo que eu pedi pro Papai Noel e pro Papai do Céu! Minha árvore no dia 24 vai estar cheia de amigos novos, regada à muito jamon, queijo e vinho NACIONAIS! E isso só foi possível por causa dos envelopinhos gordos da família, a torcida dos amigos lindos, a força do meu amor e a fé! Obrigada por tudo, pois vocês são pura magia! Tenho só que agradecer... nada para pedir... Afinal das contas, não é para isso que serve o Natal?

https://www.youtube.com/watch?v=54nJra_BzzI