Estou me adiantando um pouco
na postagem porque hoje é a primeira vez que tiro “férias”. Elas durarão quatro
dias em uma das cidades que mais acho fodas no mundo: Barcelona. Digo férias,
porque, por mais que eu esteja só gastando e não oficialmente empregada, estou
me colocando na responsabilidade de produzir.
Como já foi dito antes, a
língua é um impeditivo da boa subsistência, mas hoje me dei uma trégua por
acreditar que, por mais que um estrangeiro passe a vida toda no Brasil, por
exemplo, nunca vai ser um falador de português nato. O cara vai trocar o “o”
por “a”, misturando masculino e feminino em algum momento da vida. Por mais que
eu não saiba se “los manos” ou “las manos” é que é o certo, vou me dar ao luxo
de ser estrangeira por algum momento.
Mas por que eu estou
levantando o assunto sobre modos de falar em um parágrafo logo após mencionar a
minha exigência produtiva? Porque, claro, a gostosona aqui está tendo que se
ferrar muito em outras línguas para ler textos. Aí pensa em voz alta (tendo monólogos
contínuos): “Por que eu não levei a sério as aulas da Sueli? Por que matava as
aulas da Sueli no playground do edifício onde moravam meus amigos ricos?” Quem
é Sueli? A professora de inglês. Poderia ter usado aparelho de dentes direito,
frequentado as aulas de piano a sério e ido pelo menos ao CCAA. Bah!
Estou agora em um trem que
passarei as próximas 12 horas a caminho de Barcelona. De Sevilha para Barcelona
são trocentos quilômetros que poderiam ser reduzidos a 5 horas ou 6. Mas para
que pagar o dobro da passagem em Euro para fazer a viagem mais rápido se posso
ver a vista, frequentar o vagão restaurante, procurar desesperadamente uma
tomada, enfrentar o vaso sanitário sem tampa todo mijado depois que a porra do
velho fumou lá dentro do banheiro? Além disso, se pode desfrutar o glamour da
cafeteria a a simpatia da “camarera”: “Qué quiéres (mierda!)? Olé... to na
Europa, baby!
Naquela cafeteria havia uma
senhorita com trajes a lá “poncho e Conga”, vulgo “bicho-grilo” que após olhar
atentamente a carta, pede: “um copinho de leite grande, por favor”. Agora me
diz... que tipo de gente vai tomar um copo de leite em um trem que vai passar
12 horas? A dita disse para a garçonete que trazia seu próprio lanche. É claro
que fiquei de olho, né!? Sacou um pão de forma de grãos caseiro e duas bananas.
Uma ela amassou e passou no pão. A outra ela comeu mesmo. Depois perguntou pra
garçonete se tinha mel e traçou outro copo de leite puro... Outra bunda na
disputa do cocô no vaso metálico respingado de mijo do velho! Vai fazer cocô
daqui até Barcelona!
Fazendo um parêntesis aqui,
ela acabou de sentar-se perto de mim no vagão restaurante. Está lendo a versão
espanhola de “Minutos de Sabedoria”! Ou seja, nem conversei com a garota, mas
já achei chata pra caralho, ou “de los cojones”! Tenho um pouco de preguiça de
gente que se alimenta saudavelmente... desculpe, mas um presuntinho de vez em
quando... vou morrer com fígado, assim como todos eles, estragado, mas vai
estar no mesmo lugar!
Bem, viagem que segue... Já
passamos por Córdoba, Andujar e seguimos adiante rumo à Albacete, Cacete,
Alicante, Alicate, Valência, Valença... até Barcelona! Afinal de contas, não é
o trem que vai pra Central, passando por Curicica, Austin, Rodilândia com uma
baldeada em Queimados, né!? Também não é a maria-fumaça que saía de Barra Mansa
para Arantina com os bancos de madeira, que já chegamos a entrar pela janela
num carnaval... Muito menos aquele trem da seresta que sai de São Lourenço e
vai para Soledade de Minas... É Europa, baby! Vai corna... chu chu...