terça-feira, novembro 26, 2002

Família Buscapé vai à cachoeira
Depois de uma longa e tenebrosa noitada num dos lugares mais bizarros da minha vida, onde conseguiram reunir o maior número de gente feia por metro quadrado e, se juntasse todos os dentes, não dava uma dentadura, acordar de ressaca é "posição default". Também, pra disfarçar os olhos e começar a enxergar o povo agradável, toma que enche a cara de cachaça...

Domingo de manhã, sol a pino, despertar de cabo de guarda-chuva enrolado junto à lingua que falava mal da vida alheia, "até", na noite anterior, eis que a amiga havia prometido pro filho uma ida à cachoeira pra curtir o domingão... Barra Mansa é a latrina do vale do Parahyba... quando é verão, o diabo aluga um resort no centro da cidade, quando é inverno, pinguins passeiam serelepes pelo "Parque da Preguiça"... imaginem o calor que não fazia nessa terra nesse dia. Animadíssimos, acordamos, tomamos café, colocamos um biquini de bolinha amarelinha e partimos pra Penedo.

Decidimos ir pra Penedo, pois, por minha indicação, havia uma cachoeira M A R A V I L H O S A, com um acesso facílimo, que fiquei quieta, mas não ia fazia uns quinze anos. Quando estava chegando perto, eu mandava entrar pra lá, mandava entrar pra cá, e, depois de uns vinte minutos perambulando de carro, resolvi admitir: estamos perdidos! Intimidade é uma merda... fui cruscificada dentro daquele carro, que já lá pelas tantas, era encoberto por nuvens negras esparsas, tapando parte do sol...

- Pára o carro aqui que eu vou perguntar prá aquele moço!!
- A senhora segue reto, dobra à direita lá na frente, que logo logo à esquerda, vai ter uma plaquinha escrita Cachoeira de Deus!

Porra, tanto tempo sem ir, que o treco até mudou de nome e eu nem sabia... Mas seguimos a orientação e nada da cachoeira chegar...

- Pára o carro aqui que eu vou perguntar pra aquela moça!
- A senhora desce essa ladeira, sobe reto até chegar um hotel, voltando de onde a senhora veio.

Quem disse que o treco aparecia... Gente, confesso que quando eu ia, não tinha casa, não tinha hotel e era só mato. A orientação que a gente seguia era como a trilha da Chapeuzinho Vermelho: depois da terceira árvore, siga a trilha dos tijolinhos amarelos (acho que isso é Alice, mas não importa).

- Pára o carro aqui nessa casa, que aqui o povo tem que saber!
Eis que desce Carlos Magno (bobeira agora tem nome composto) do carro e adentra a casa do homem (lá em Miracema o povo vai entrando sem pedir licença)... Volta a pessoa rindo do chapéu de bicho-grilo do dono da casa (mais debochado eu nunca vi)...
- O homem mandou subir aqui, virar à esquerda ali na frente, que tem uma plaquinha...
Enfim, chegamos até o lugar, paramos o carro, e desce com mala, cuia, cachorro, papagaio, isopor, bóia de câmara de ar de caminhão (CONFIRMA), fecha o carro todo, apanha as chinela Havaiana, desce uma trilha cheia de obstáculos: "Kitty, trouxe o facão??" - , pedras e paus, desvia na trilha e dá de cara com um "mói" de folhas de bananeira e... fim da linha... caminho errado. Volta tudo, desvia o caminho, segue uma trilha (desta vez mais aberta), e toca que tem frio na barriga com o barulhim da água caindo, quando olho pra baixo, a queda tava ficando pra trás: "Gente, a cachoeira tá lá atrás" - . Volta tudo, vira à esquerda (isso com guarda-sol, piscininha inflável, cadeira redobrável com cinco posições), desce um ladeirão escorregadio pacas, escora numa árvore e, passa Marquinho, passa Adriano, passa Alexandra, careega Ariel, passa Ariel pra mão da Kitty, - "segura a gaiola da maritaca!" - no que põe os pés na água... CABRUM!!!!!!!!!!!!!!!