terça-feira, novembro 12, 2002

Procura-se...

Nessa fase de "baixas", nós, as pessoas de muita criatividade pela sobrevivência, procuramos recursos dos mais variados, baseados nos nossos próprios dotes pessoais. Geralmente nesse período, voltamos a recorrer aos sites de auto-ajuda, horóscopos, leitura dinâmica e até currículos, afim de resgatar o que está no nosso íntimo, para não entrarmos em depressão. É aí que decobrimos o nosso poder de prendizagem culinária, nossa capacidade para pintura em vidro art-nouveau, nossa paciência na montagem de quebra-cabeças e nossa completa falta do que fazer ao submetermo-nos aos jogos emuladores de Atari.

Percorrendo diariamente aos sites de publicação de currículos, percebi que essa profunda busca aos dons obscuros é de grande valia. Fatalmente nos deparamos com solicitações de profissionais absurdas, tipo uma que vi esses dias:
"Procura-se profissional de webdesign, que domine as principais ferramentas do mercado: Corel Draw, Photoshop, Dreamweaver, HomeSite, Flash... domine HTML, ASP, SQL, ColdFusion, JSP, com 3 anos de experiência. Exige-se domínio da língua inglesa. Salário: R$500,00 + benefícios". Só faltaram citar que o cara precisa de crochê avançado, entenda de matelacê (metelacê, sei lá), tenha sido garçon por 2 anos, ter frequentado a ubanda pelo menos uma vez e ainda por cima, pra dar aulas de violão e guitarra. Para quem trabalha na área e tem formação de design, ou faz uma coisa ou outra. Como é que o cara vai programar e ser designer ao mesmo tempo, dominar a parada toda em somente 3 anos?? Vai ainda por cima se submeter a trocar o almoço pela "janta"??

Aí, tem neguim que "paga" (litetalmente) pra ver. Aí quando chega lá na entrevista, geralmente espera numa saleta meia-boca, com uma poltrona velha com um rasgo disfarçado com o remendo que a secretária fez, uma secretária lixando unha que está "pindurada" no telefone dizendo pás amiga: "o pobrema, é que eu num vô trabalhá no sábado...", um porta-revistas que a edição mais nova é da Revista Manchete da entrada de Juscelino Kubicheck ao governo, e uma portinha que entra-e-sai um molequinho com uma pasta azul de polyonda de elástico embaixo do braço. Aí o cara entra e vai conversar com o sujeito que diz: "Eu sou dezaimi. Por mim, eu faria o projeto, mas como eu não tenho tempo. O trabalho é uma rômi-peige e aqui a gente é muito moderno e exigente. Eu adoro a moderninade da dinâmica das coisas bem animadas, sabe!? Gosto de tudo bem colorido, porque assim, chama a atenção do cliente..." - enquanto o cara vai falando, o candidato entra em desespero. Briefing igual a esse, tava pra ver... Aí o cara reintera: "Se você topar, tem mais um monte de trabalhos que a gente indica. Vc vai lá e fecha com o cliente." - No final, depois de um monte de baboseiras, o sujeito resolve mostrar o equipamento. Trata-se de uma máquina super potente: um 486 DX2 66. Aí o cara reata: "E tem impressora colorida!"